ARTIGO – Como criar hábitos alimentares saudáveis em crianças

Alimentos naturais devem ser prioridade na alimentação infantil. FOTO: Stewardesign/Pixabay

 

Por Rogério Gomes de Melo – Nutricionista

Para muitos pais — principalmente os de primeira viagem,  a alimentação das crianças é um dos temas que mais gera dúvidas e inseguranças. A criação de hábitos alimentares saudáveis na
infância tem ganhado cada vez mais atenção dos profissionais de saúde. Comportamentos
alimentares inadequados adquiridos nos primeiros anos de vida tendem a se manter na fase
adulta, o que pode aumentar significativamente o risco de obesidade, diabetes e outras doenças
crônicas.

Diante desse possível cenário, os nutricionistas destacam que práticas simples e contínuas
podem transformar a rotina alimentar das famílias brasileiras, reduzindo a incidência dessas
doenças. Por isso, é importante compreender como iniciar uma rotina alimentar equilibrada,
pois isso pode fazer toda a diferença no futuro dos pequenos.

Exposição precoce aos alimentos naturais é determinante

A familiarização com frutas, verduras e legumes deve acontecer de forma leve e constante. A
rejeição inicial é comum — e esperada. A exposição desde cedo a frutas, legumes e verduras tem impacto positivo na aceitação desses alimentos na fase escolar. A familiarização visual é tão importante quanto o consumo. As crianças devem ser expostas a alimentos de cores variadas, pois isso pode levar a uma maior aceitação.

Vale ressaltar que o fato de a criança rejeitar uma fruta, uma verdura ou um legume na primeira vez em que lhe é ofertado não implica, necessariamente, em uma rejeição definitiva. Modificar a apresentação desses alimentos pode facilitar a aceitação.
Lembre-se: o momento da refeição não deve ser transformado em uma “batalha”.

Ambiente e rotina influenciam mais do que se imagina

O ambiente doméstico tem papel decisivo na formação de hábitos alimentares.
Criar horários fixos para as refeições ajuda a criança a entender a nova rotina e reduz a
ansiedade dos pais.

Algumas rotinas podem ser colocadas em prática:

• Manter horários definidos para as refeições (horários incertos podem levar a “beliscar”
alimentos que vão “tirar a fome”)
• Evitar distrações com televisores e celulares à mesa, o que pode levar ao consumo exagerado de alimentos — “a gente come e nem percebe”
• Incluir as crianças no preparo dos alimentos. É importante ter paciência: não se pode esperar grandes habilidades; por isso, dê preferência a preparos simples, como escolher e lavar verduras para uma salada ou selecionar uma fruta para a sobremesa

A criança que participa do processo de escolha e preparo do alimento tende a apresentar menor rejeição, pois fez parte da decisão do que irá comer.

Consumo de ultraprocessados exige atenção redobrada

Nos primeiros anos, o ideal é evitar alimentos ultraprocessados, já que esses costumam conter,
em excesso, açúcar, sódio e aditivos artificiais. A Sociedade Brasileira de Pediatria (SBP)
reforça que, nessa fase, o organismo da criança está em pleno desenvolvimento e se adapta
facilmente aos sabores oferecidos. A exposição frequente a esses alimentos pode alterar a
preferência gustativa, tornando frutas, verduras e legumes menos atrativos.

Quanto menos contato com alimentos industrializados, maior a chance de a criança preferir
alimentos naturais com o tempo. Vale ressaltar que alimentos ultraprocessados podem conter
altos níveis de açúcar, sódio, gorduras saturadas e aditivos artificiais.

Estratégias práticas recomendadas por profissionais

Nutricionistas sugerem algumas ações simples e eficazes:
• Oferecer alimentos naturais em diferentes texturas e preparações;
• Variar cores no prato, estimulando o interesse visual;
• Evitar usar comida como recompensa ou castigo;
• Incentivar o consumo de água desde cedo;
• Permitir pequenas escolhas, como decidir entre duas frutas;
• Respeitar o apetite da criança — fome e saciedade variam dia a dia;
• Apresentar novos alimentos ao lado de alimentos já aceitos.

Pequenos passos hoje, grandes benefícios amanhã

A incorporação de hábitos alimentares saudáveis é um processo gradual, que exige paciência e
constância. Pequenas mudanças na rotina familiar já são capazes de gerar impacto positivo a
longo prazo. Ao promover um ambiente acolhedor, variado e equilibrado, pais e cuidadores
contribuem para a formação de adultos mais saudáveis e conscientes de suas escolhas
alimentares.

Para pais de primeira viagem, a alimentação pode parecer um mundo novo — e realmente é.
Mas nutricionistas garantem que, com paciência, rotina e exemplos positivos, as crianças
aprendem a gostar de alimentos saudáveis. O importante é criar um ambiente tranquilo, sem pressões, e lembrar que cada criança tem seu próprio ritmo.

 

Rogério Gomes de Melo é Nutricionista, formado pela Universidade Federal de Pernambuco (UFPE) e especialista em nutrição clínica e esportiva.

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