
Da Agência Brasil
O Congresso Brasileiro de Psiquiatria começa nesta quarta-feira (18), em pleno Dia do Médico, em Salvador, e vai até o próximo dia 23. Promovido pela Associação Brasileira de Psiquiatria (ABP), o evento completa 40 anos em 2023, trazendo mais de 150 atividades científicas, pesquisas mundiais e estudos sobre psiquiatria forense, psiquiatria da infância e adolescência, dependências químicas, suicídio, medicina do sono, emergências, psicofobia, entre outros assuntos.
Em entrevista à Agência Brasil, o presidente da ABP, Antonio Geraldo da Silva, falou sobre alguns dos temas que serão objeto de discussão e conferências durante o evento, começando pela Inteligência Artificial (IA).
Para o presidente da ABP, a IA pode ajudar os psiquiatras em algumas questões, desde aquelas ligadas ao diagnóstico, como ampliar a adesão ao tratamento – e sua personalização, previsão de riscos, monitoramento dos pacientes e avanços em pesquisas de novos tratamentos para melhorar a qualidade de vida das pessoas. Silva ressalta, porém, que os psiquiatras devem utilizar a tecnologia “apenas para complementar o trabalho que é de excelência e de altíssima habilidade técnica, aliada a uma humanidade diferenciada, porque a psiquiatria alia cientificidade com a mais humana das especialidades médicas”.
A boa saúde mental segundo ele, depende de uma boa psiquiatria, que envolva desde cuidados de promoção da saúde até a prevenção continuada de doenças. Para Antonio Geraldo da Silva, os psiquiatras podem contribuir com a melhoria da qualidade de vida das pessoas promovendo a conscientização, reduzindo o estigma, oferecendo tratamentos baseados em evidências e trabalhando em colaboração com outros profissionais de saúde.
“Além disso, a telemedicina e os avanços tecnológicos nos auxiliam a ter mais acesso aos cuidados psiquiátricos, a novos tratamentos que podem melhorar a qualidade de vida dos pacientes. Evolução é a palavra que sempre caminhou conosco, pois queremos sempre oferecer melhores tratamentos e suporte às pessoas sadias e também às pessoas com doenças mentais”.
Crianças e mulheres
Outros temas de debate investigam o futuro da saúde mental da criança e do adolescente e os transtornos psiquiátricos na gravidez e pós-parto. “Durante o congresso da ABP, teremos cursos sobre várias doenças comuns na infância e adolescência, cursos sobre ‘bullying’ e suicídio, debates sobre neurodiversidade, Transtorno do déficit de atenção com hiperatividade (TDAH), atualização em transtornos de humor, autolesão não suicida e suicídio na infância e adolescência, autodiagnóstico e banalização dos diagnósticos”, adiantou Antonio Geraldo da Silva.
Os protocolos a serem seguidos nesses casos devem incluir a avaliação multidisciplinar, tratamento baseado em evidências e abordagens personalizadas para atender às necessidades individuais das crianças e adolescentes. “Devemos trabalhar em conjunto com as famílias para a promoção do cuidado com a saúde mental e combate ao estigma”.
Já o tratamento de transtornos psiquiátricos na gravidez e pós-parto requer uma abordagem cuidadosa e multidisciplinar. Em situações como esta, o presidente da ABP sinaliza que deve ser feita uma avaliação completa, uma análise do histórico psiquiátrico da paciente e o histórico familiar de doenças mentais. Com a confirmação do diagnóstico, o tratamento terapêutico deve ser personalizado de acordo com as necessidades individuais da paciente, considerando os sintomas e a gravidade, além das preferências pessoais da mulher. Em alguns casos, pode ser necessário o uso de medicamentos após avaliação de riscos para a amamentação, por exemplo, orientou.
Publicidade médica
Outro tema polêmico que será discutido no congresso aborda os impactos que as novas regras da publicidade acarretam para os profissionais da psiquiatria e qual a atitude correta a ser seguida. Durante o congresso, segundo Antonio Geraldo da Silva, o tema será detalhadamente discutido num curso sobre os riscos e benefícios da publicidade médica em psiquiatria. “Nós, médicos, seguimos as resoluções do Conselho Federal de Medicina. De maneira geral, essas novas regras focam no uso responsável e sem sensacionalismo das redes sociais. Muitos psiquiatras fazem uso das mídias sociais para divulgar o seu trabalho e falar sobre temas relacionados à saúde mental nos seus perfis”.
o psiquiatra reconhece que alguns impactos das novas regras podem incluir maior rigor na divulgação de informações sobre tratamentos e resultados, uso de imagem, divulgação de preços de consultas, entre outros. “A atitude correta a ser seguida é conhecer e aderir às regras e regulamentos específicos da sua associação profissional. É essencial priorizar a ética, a privacidade e a transparência em todas as atividades de publicidade, fornecendo informações precisas e respeitando os direitos dos pacientes”.
Ar e saúde mental
Psiquiatras brasileiros e de outras nacionalidades se dedicam a investigar a relação entre a qualidade do ar e a saúde mental – um campo de pesquisa em crescimento. De acordo com o presidente da ABP, estudos têm demonstrado que a poluição do ar pode ter impactos negativos na saúde mental das pessoas. “Artigo recente mostra que a exposição a longo prazo à poluição do ar pode estar associada ao aumento de casos de alguns transtornos mentais, como transtorno bipolar, depressão e transtornos de personalidade”. Na sexta-feira (20), haverá palestra com a especialista Helen Fisher, da Inglaterra, sobre o assunto.
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