Campanha #VemProUro convoca adolescentes a cuidar da saúde e se prevenir contra ISTs

Número de meninas que vão ao ginecologista no início da puberdade é muito maior que o de meninos. FOTO: karosieben- Pixabay (2)

 

 

Da Agência Brasil

A Sociedade Brasileira de Urologia (SBU) realiza, em setembro, a 6ª edição da Campanha #VemProUro. Criada para incentivar cuidados com a saúde entre meninos e adolescentes de 9 a 14 anos, a campanha deste ano levanta as principais questões que afetam essa faixa etária.

Pelas redes sociais, serão abordadas dúvidas sobre sexualidade, infecções sexualmente transmissíveis (ISTs) e a importância da vacinação contra o HPV (Papilomavírus Humano).  “A dificuldade de trazer os adolescentes para um cuidado maior com sua saúde ficou extremamente evidente quando começamos a comparar os índices de vacinação contra o HPV, que é muito maior nas meninas do que nos meninos”, disse o presidente da Sociedade Brasileira de Urologia (SBU), Alfredo Canalini.

Segundo ele, apesar da vacina ser gratuita e estar disponível no Sistema Único de Saúde (SUS), os meninos não procuravam se imunizar. A vacina contra o HPV se destina a meninos e meninas de 9 a 14 anos, mas a adesão dos meninos ainda é baixa. Entre eles, a taxa de vacinação da primeira dose é de 52% e da segunda dose, de 36%, enquanto a meta recomendada é 95%.

O HPV é um vírus que infecta pele ou mucosas das áreas oral, genital ou anal, tanto de homens quanto de mulheres, provocando verrugas anogenitais e câncer, dependendo do tipo de vírus. É uma infecção sexualmente transmissível (IST). Dois tipos de HPV (16 e 18) causam 70% dos cânceres do colo do útero e lesões pré-cancerosas.

Os urologistas da SBU analisaram os números de atendimento na saúde pública de meninos e meninas, na faixa etária de 12 a 18 anos. “Observamos que o número de meninas que se consultam na rede pública é 18 vezes maior que o de meninos”, informou Canalini.

Sexualidade

Outra pesquisa, feita sobre sexualidade, para descobrir como o adolescente se informa sobre o assunto, revelou que nem sempre a fonte era segura. “Nem era com o professor na escola, nem dentro de casa. Parece que a conversa com os meninos acaba ficando meio tabu. Então, os meninos ou se informam com os garotos mais velhos, o que nem sempre é uma troca de informações verdadeiras; na maioria das vezes, são informações equivocadas, ou se informa pela internet, que é pior ainda”, explica Canalini.

Para ele, a SBU tem o dever de conscientizar as pessoas que não é assim que se lida com a saúde dos meninos. “Porque isso é um ato que começa a se prolongar ao longo da vida. O próprio homem adulto só procura o médico quando está sentindo alguma coisa. E quando o sintoma aparece, muitas vezes já é uma doença que está avançada”, observa.

Este ano, a campanha #VemProUro está muito focada na sexualidade, na contracepção, no uso de drogas. O urologista afirmou que a liberação do uso da maconha, por exemplo, tem que ser muito bem discutida, até para que os adolescentes possam fazer as suas opções, se eles querem aquilo ou não. Informação é tudo.

O mesmo se aplica ao cigarro, apontou Canalini. Já existem evidências de que o cigarro causa câncer. Mas as pessoas têm que ser informadas sobre os riscos a que estão se expondo pelo uso do tabaco e seus derivados.

Em relação ao cigarro, o relatório Covitel2, que monitora os fatores de risco para doenças crônicas no Brasil, revela que 23% dos jovens de 18 a 24 anos respondem pela maior prevalência de experimentação do cigarro eletrônico, no primeiro trimestre de 2023. No primeiro trimestre do ano passado, a taxa nessa faixa etária era mais baixa (19,7%).

A SBU lembra que a venda de cigarro eletrônico no Brasil é proibida e que, apesar disso, o dispositivo tem se popularizado entre os jovens que, muitas vezes, desconhecem seus malefícios. “São temas importantes e têm de ser trazidos à tona, que educam o menino para toda uma atitude de saúde e cuidados do próprio organismo”, comenta o médico.  “Hoje muitos meninos estão se tornando pais sem preparação emocional nem financeira. “Não têm maturidade para arcar com a obrigação, nem com a beleza da paternidade. “É uma oportunidade que se perde.”, completa.

Cultura

O presidente da SBU considera que essa deficiência é cultural, porque os pais também não se cuidam e, por isso, muitas vezes, não se preocupam em levar os filhos a cuidarem da saúde. Ao contrário das mulheres que levam as filhas ao ginecologista, quando entram na puberdade, para fazer exames e se informar. O mesmo não acontece com o pai em relação ao filho. “O homem não tem esse cuidado, começando pela higiene do órgão genital. Há pais que se preocupam com a saúde dos filhos em termos de imunização, mas não vê como o filho está urinando ou se está lavando direito o pênis”, declara Alfredo Canalini.

A falta de higiene é uma das causas do câncer de pênis, que tem levado muitos homens à amputação do membro. A entidade defende a importância de se criar no homem, desde a adolescência, a cultura da prevenção de doenças e da rotina de ir ao médico para prevenir e evitar problemas, como as mulheres já fazem tradicionalmente.

Durante todo o mês de setembro, a sociedade vai abordar, em seu canal nas redes sociais Instagram, Facebook e TikTok (@portaldaurologia), temas em linguagem pertinente à faixa etária em vídeos e lives. No próximo dia 11, às 20h, especialistas se reunirão no Instagram para a palestra Álcool e cigarro eletrônico na adolescência. No dia 25, no mesmo horário, o tema será Sexualidade na adolescência.

Infecções

De acordo com a SBU, outro problema que ameaça os jovens são as infecções sexualmente transmissíveis (ISTs), que exigem o uso de preservativos nas relações sexuais e a volta do conceito do sexo seguro.

Pesquisa divulgada pelo Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE), em 2022, revela que no período de 2009 a 2019, o percentual de escolares que usaram preservativo na última relação sexual caiu de 69,1% para 53,5% entre as meninas e de 74,1% para 62,8% entre os meninos.

Alfredo Canalini afirmou que, sem proteção, os jovens ficam suscetíveis a infecções como a gonorreia e a clamídia que podem causar infertilidade; ao HPV que é fator de risco para o câncer, à sífilis que, se não tratada, pode gerar problemas cardíacos e neurológicos, ao HIV, a herpes, entre outras doenças.

Os meninos e meninas adolescentes de hoje não vivenciaram a pandemia de HIV/Aids, na década de 1980. Naquela época, o Ministério da Saúde se empenhou na divulgação do uso de preservativo para evitar a contaminação pelo vírus.  Canalini defendeu que essas campanhas têm de voltar para conscientização do sexo seguro, diante do aumento que se percebe das infecções sexualmente transmissíveis, como HPV, hepatites e sífilis. “E, junto com isso, vai a questão da paternidade responsável”, indicou.

Entre as dúvidas que o adolescente pode tirar em uma consulta estão prevenção às infecções sexualmente transmissíveis; câncer de testículo; inflamação na cabeça do pênis e prepúcio; fimose; ejaculação precoce; veias dilatadas nos testículos, ou varicocele; efeitos de anabolizantes; atraso da puberdade; tamanho do pênis; vacinação; paternidade responsável e prevenção de gravidez indesejada; além de orientações a respeito do início da vida sexual.

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