Uma nova pesquisa científica desenvolvida no Programa de Pós-Graduação em Medicina Tropical da Universidade Federal de Pernambuco (UFPE) deu origem a dois artigos sobre pessoas idosas diagnosticadas com HIV. O estudo, conduzido pela preceptora da Residência Médica em Geriatria do Hospital das Clínicas da UFPE, Isaura Romero Peixoto, constatou um processo de envelhecimento precoce nesses pacientes.
Com aplicação da inteligência artificial, pôde ser identificada uma estimativa da idade biológica, além da baixa contagem de linfócitos T CD4+, disglicemia (pré-diabetes e diabetes) e uso de cannabis como fatores associados ao problema. Além de Isaura, participaram do desenvolvimento da pesquisa a professora Heloísa Ramos Lacerda e a doutoranda Ladjane Santos Wolmer de Melo.
Os artigos são “Factors associated with early biological aging in older people with HIV (Fatores associados ao envelhecimento biológico precoce de idosos com HIV)” e “Older people living with HIV and antiretroviral therapy: The prevalence of dysglycemia and risk factors (Idosos vivendo com HIV e antiretroviral: a prevalência de disglicemia e fatores de risco)”. Eles foram apresentados nos congressos Advanced Cardiology & Cardiovascular Research (Reino Unido), Advances in Clinical Research & Trials (Reino Unido) e Future of Preventive Medicine & Public Health (Espanha), renomados eventos internacionais realizados em março deste ano.
O estudo ainda envolveu a análise de dados de uma amostra de pessoas vivendo com HIV/Aids e que estão em tratamento com Terapia Antirretroviral (TARV), atendidos em ambulatórios especializados do Hospital Universitário Oswaldo Cruz da Universidade de Pernambuco (UPE) e do Hospital das Clínicas da UFPE, uma unidade vinculada à Empresa Brasileira de Serviços Hospitalares (Ebserh).
O Boletim Epidemiológico HIV/Aids publicado pelo Ministério da Saúde, em dezembro de 2022, reforça o aumento da infecção entre a população envelhecida. Mesmo com a pandemia da covid-19, foram registrados 1.517 casos de HIV entre os brasileiros mais velhos em 2021, representando um aumento em relação ao ano anterior (2020), quando mais de 1.200 pessoas idosas foram diagnosticadas com a infecção. “Estudos apontam como causas para esse evento a falta de informação por parte das pessoas idosas, decorrente do fato dos profissionais de saúde acharem que as pessoas idosas são assexuadas”, diz a médica Isaura.
A pesquisadora ressalta ainda que a falta de uso de preservativo por pessoas idosas é uma das causas da infecção pelo HIV, assim como a persistente crença de que o vírus afeta exclusivamente pessoas homossexuais, destacando a utilização de uma abordagem mais abrangente para esse público. “Estudos como esses alertam para a necessidade de campanhas de prevenção de Infecções Sexualmente Transmissíveis (IST) que envolvam pessoas com 60 anos ou mais. Precisamos dar visibilidade à pessoa idosa”, concluiu Isaura Romero Peixoto.
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