Pesquisa revela aumento de Doenças Inflamatórias Intestinais nos estados do Nordeste

Pesquisa científica observou demora entre os sintomas e o início do tratamento da Doença de Crohn. FOTO: Mart-Production - Pexels

O Estudo Multicêntrico do Perfil Clínico e Epidemiológico de Doença Inflamatória Intestinal no Nordeste do Brasil, realizado em ambulatórios de referência de Pernambuco, Paraíba e Rio Grande do Norte, observou um aumento progressivo da incidência de Doenças Inflamatórias Intestinais (DII) nos estados do Nordeste. O resultado é algo que já havia sido relatado em países em desenvolvimento da América Latina.

O primeiro estudo prospectivo multicêntrico realizado no Nordeste, área de baixo desenvolvimento socioeconômico em comparação com as demais regiões, é um dos poucos realizados no país e aponta demora no tratamento de algumas doenças. “Esse é o primeiro estudo multicêntrico que descreve o perfil clínico e epidemiológico e com um número de participantes realmente robusto. É um aspecto muito relevante por ser um estudo local para ver se o perfil dessa doença realmente corresponde com os descritos na literatura”, explica o professor adjunto de Medicina Clínica e do Ambulatório de Gastrologia do HC, Carlos Brito.

Segundo ele, a pesquisa científica aponta algumas diferenças no estudo e uma delas deixou a equipe preocupada. “A maioria dos pacientes que têm a Doença de Crohn é atendida com comportamentos de uma doença mais grave, e o tempo entre o início do sintoma até o diagnóstico foi prolongado com média de um ano”, explica o professor.

Foram analisados 517 pacientes com colite ulcerativa (CU) ou doença de Crohn (DC), principais formas de doenças inflamatórias intestinais, mais prevalentes em países em desenvolvimento como o Brasil. Os pesquisados foram recrutados de janeiro de 2020 até dezembro de 2021. Enre eles, 355 (62%) possuíam UC e 216 (38%) tinham DC, com incidência predominante sobre as mulheres.

O estudo utilizou o coorte prospectivo – modelo onde o pesquisador está presente no momento da exposição de um ou mais fatores e faz acompanhamento por um período de tempo para observar um ou mais desfechos.

Para participar da amostra, os pacientes tinham que estar sendo acompanhados em ambulatórios de unidades hospitalares especializadas no atendimento a DII nas capitais de três estados do Nordeste. No Recife, foram selecionados o Hospital das Clínicas da Universidade Federal de Pernambuco, a Universidade de Pernambuco e o Hospital Barão de Lucena. Em João Pessoa, o Hospital Universitário Lauro Wanderley, da Universidade Federal da Paraíba; e em Natal, o Hospital Universitário Onofre Lopes, da Universidade Federal do Rio Grande do Norte. O estudo registrou questões demográficas e sociais como sexo, idade raça, renda familiar e escolaridade, bem como variáveis clínicas.

As doenças em questão têm sido motivo de preocupação na região há anos, afetando uma grande parcela da população local. De acordo com a SBCP,  estima-se que cerca de 5 milhões de indivíduos em todo o mundo sejam afetados pelas DII, com maior incidência em adolescentes e adultos na faixa etária de 15 a 40 anos. No Brasil, a prevalência no sistema público de saúde alcança cerca de cem casos para cada 100 mil habitantes. As DII são caracterizadas, principalmente, por uma inflamação crônica em diferentes partes do corpo, resultando em sintomas debilitantes e impacto significativo na vida cotidiana dos pacientes.

A pesquisa pôde observar que o comportamento da doença caracterizou-se, em sua maioria, como extenso, de difícil controle e frequentemente associado a complicações, o que pode ser, em parte, pelo tempo prolongado entre o início dos sintomas e o diagnóstico da doença. Mas também, de acordo com o professor Brito, a prevalência de DII pode estar associada ao crescimento populacional, mudanças de hábitos e o melhor acesso a centros especializados, que podem resultar em diagnósticos superiores.

Além de Carlos Brito, foram responsáveis pela produção do artigo: Lívia Medeiros Soares Celani, Marcelo Vicente Toledo de Araújo, Maurilio Toscano de Lucena, Graciana Bandeira Salgado Vasconcelos, Gustavo André Silva Lima, Fernando Jorge Firmino Nóbrega, George Tadeu Nunes Diniz, Norma Lucena-Silva, Germano Tose Toneto, João Victor de Carvalho Falcão, Pedro Martinelli Barbosa, Priscylla Rayanne Fernandes de Oliveira, Luanna Karen Chagas Fernandes, Samara Amorim de Araújo e Valéria Ferreira Martinelli.

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