Pesquisa revela que 30% dos pacientes deixam tratamento de DPOC por dificuldade de obter medicamento

Apesar de sintomas como tosse crônica e falta de ar, muitos portadores da DPOC não sabem que têm a doença. FOTO: Andrea Piacquadio/Pexels

A Doença Pulmonar Obstrutiva Crônica (DPOC), considerada a 5ª maior causa de internação no Sistema Único de Saúde (SUS) entre pacientes com mais de 40 anos, ainda é desconhecida dos brasileiros. Nem mesmo pessoas que apresentam sintomas clássicos da DPOC, como tosse crônica, cansaço, catarro e falta de ar, conhecem a doença.

É o que revela a pesquisa inédita “Retrato da DPOC na visão dos brasileiros”, realizada com 2.141 pessoas em todas as regiões do país. Foram ouvidos pacientes (274), cuidadores (55) e população (1812). Segundo o levantamento, realizado em 2023 pela biofarmacêutica Chiesi, com apoio técnico-científico da Sociedade Paulista de Pneumologia e Tisiologia, 26% da população em geral não sabe do que se trata a sigla DPOC e mais da metade não procura atendimento quando tem sintomas relacionados à doença.

No Brasil, cerca de 6 milhões de pessoas vivem com DPOC e, em média, 40 mil brasileiros morrem por ano em decorrência da doença. Apesar dos números elevados, a pesquisa mostra negligência em relação à sua gravidade. Quando perguntado o quanto as pessoas consideram a DPOC uma doença grave, a condição aparece apenas em 5º lugar, apesar do impacto significativo na qualidade de vida dos pacientes e do alto índice de internações e mortes.

Importância do diagnóstico precoce

Para a Dra. Margareth Dalcolmo, pneumologista, pesquisadora da Fiocruz e presidente da Sociedade Brasileira de Pneumologia e Tisiologia, a informação sobre a doença e a importância do diagnóstico e da adesão ao tratamento são urgentes.

“É preciso que médicos, de todas as especialidades, comecem um diálogo mais criativo com a sociedade civil nesse sentido. E nós, como sociedade médica, temos que fazer com que o diagnóstico dessa doença seja realizado precocemente, bem como facilitar o provimento das medicações aprovadas para o tratamento, nas farmácias populares”, reflete.

A pesquisa “Retrato da DPOC na visão dos brasileiros” revela que mais de ¼ dos pacientes e cuidadores entrevistados acham que é “muito difícil” ou “difícil” ter acesso ao exame de espirometria, fundamental para detectar a doença. O estudo mostra ainda que 30% dos pacientes já abandonaram o tratamento, sem o consentimento do médico, pela dificuldade de obter os medicamentos no SUS, enquanto outros 24% deixaram de fazer o tratamento ao notar uma melhora dos sintomas.

Os pacientes entrevistados sinalizaram que o abandono do tratamento ou a não adesão podem acontecer por barreiras como a baixa disponibilidade de medicamentos nos postos de saúde, informação sobre o uso do medicamento, acesso à consulta médica, mudança no estilo de vida e o preço do remédio – considerado por 55% dos entrevistados uma barreira “muito alta” para a adesão ao tratamento.

“Nós, especialistas, estamos empenhados em oferecer ao Ministério da Saúde um programa integral, em parceria com a indústria, para o diagnóstico precoce, provendo avaliação funcional e facilitando, também, o acesso aos medicamentos”, declara a Dra. Margareth Dalcolmo.

Para além das consequências na vida e na saúde dos pacientes, seus familiares e cuidadores, a sensibilidade do cenário extrapola para o SUS, impactando em um gasto anual aproximado de R$ 103 milhões, com a média de 200.000 hospitalizações.

Em resposta a esTe cenário, a biofarmacêutica Chiesi submeteu um dossiê à Comissão Nacional de Incorporação de Tecnologias no Sistema Único de Saúde (Conitec). Enviado neste mês de novembro, o documento solicita a inclusão da terapia tripla fixa no Protocolo Clínico e Diretrizes Terapêuticas (PCDT) de tratamento da DPOC.

A partir da análise, a Comissão tem 180 dias para dar seu parecer favorável ou desfavorável, e abrir uma Consulta Pública para ouvir a opinião de profissionais de saúde, pacientes e toda a sociedade a respeito da incorporação da terapia no Sistema Público de Saúde (SUS).

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