Baixo financiamento mundial ameaça combate à tuberculose, doença que registra 80 mil casos no Brasil por ano

Em 2023, de acordo com a OMS, 10,8 milhões de pessoas foram infectadas pela doença. FOTO: Eduardo Gomes - ILMDFiocruz Amazônia

 

Agência Brasil

No Dia Mundial de Combate à Tuberculose, lembrado nesta segunda-feira (24), a Organização Mundial da Saúde (OMS) alerta que o baixo financiamento para prevenir e tratar a doença ameaça milhões de vidas.

Dados da entidade mostram que, em 2023, 10,8 milhões de pessoas no mundo foram infectadas pela bactéria Mycobacterium tuberculosis, também conhecida como bacilo de Koch. Dessas, 1,25 milhão morreram em razão da doença.

A tuberculose, segundo a OMS, apesar de ser prevenível e tratável, permanece com o posto de doença infecciosa mais mortal do planeta. “Ela continua a devastar milhões de pessoas globalmente, causando graves consequências sanitárias, sociais e econômicas”, alerta a OMS.

A Organização Pan-Americana da Saúde (Opas) afirma que, nas Américas, 342 mil pessoas adoeceram por tuberculose em 2023. Dessas, 35 mil morreram. A entidade contabiliza ainda cerca de 76 mil casos não diagnosticados nem tratados na região.

Campanha

O tema da campanha global de combate à tuberculose este ano é Sim! Podemos acabar com a Tuberculose! Compromisso, Investimento, Resultados.

“O Dia Mundial da Tuberculose deste ano reforça a urgência de agir”, avaliou a Opas.

“Os países se comprometeram a acelerar a resposta e garantir acesso universal à prevenção, diagnóstico e tratamento, mas o progresso ainda é insuficiente e a tuberculose continua afetando as populações mais vulneráveis”, diz a Opas.

Inovações

A entidade destaca que, apesar dos desafios, “há motivos para esperança”. Novas tecnologias, segundo a Opas, podem mudar o rumo da tuberculose, incluindo:

  •  radiologia digital com inteligência artificial, ferramenta capaz de aprimorar a detecção precoce em populações de maior risco;
  •  testes moleculares rápidos, que permitem diagnósticos mais precisos e ágeis;
  •  e tratamentos mais curtos e totalmente orais, com suporte da telemedicina para garantir maior adesão ao tratamento.

“Com compromisso renovado e colaboração, podemos avançar rumo à eliminação da tuberculose e salvar vidas. Agora é o momento de agir com determinação para alcançar as metas globais”, defende a Opas.

Situação no Brasil

No Brasil, apesar dos avanços na medicina, segundo o Ministério da Saúde, por ano, são notificados 80 mil casos novos e cerca de 5,5 mil mortes em decorrência da tuberculose.

O médico e facilitador do Centro de Simulação da Faculdade Pernambucana de Saúde, Erick Pordeus, diz que a doença  afeta principalmente os pulmões, mas pode atingir outros órgãos.  A transmissão ocorre por via respiratória, pela eliminação de aerossóis produzidos pela tosse, fala ou espirro de uma pessoa com tuberculose ativa (pulmonar ou laríngea), sem tratamento.

Entre os sintomas, estão tosse persistente, febre, sudorese noturna e perda de peso. “A tuberculose pode se agravar caso não seja tratada corretamente, apresentando ainda dificuldade na respiração; eliminação de grande quantidade de sangue, colapso do pulmão e acúmulo de pus na pleura (membrana que reveste o pulmão) – se houver comprometimento dessa membrana, pode ocorrer dor torácica”, explica Pordeus.

Diagnóstico precoce

O diagnóstico precoce faz toda a diferença, tanto para o tratamento quanto para reduzir a transmissão da doença. Em caso de tosse persistente por mais de três semanas, a população deve procurar uma unidade de saúde.

Pessoas vivendo com HIV ou que tenham contatos próximos de pacientes com tuberculose, estejam em situação de rua, indígenas e profissionais de saúde, além das privadas de liberdade, devem ser investigadas independentemente do tempo de tosse. Nesses grupos, a doença pode evoluir mais rapidamente ou ter apresentações atípicas. Com o início do tratamento, a transmissão tende a diminuir gradativamente, e em geral, após 15 dias, o risco de transmissão da doença é bastante reduzido.

Há como prevenir?

A principal forma de prevenção da tuberculose é a vacina BCG, oferecida de graça no Sistema Único de Saúde (SUS). A vacina, que protege contra as formas mais graves da tuberculose, deve ser aplicada nas crianças logo ao nascer ou, no máximo, antes dos 5 anos de idade. Outra estratégia de prevenção é o tratamento da Infecção Latente da Tuberculose (ILTB), que ocorre quando uma pessoa se encontra infectada pelo M. tuberculosis, sem manifestação da doença ativa.

Essa medida serve para evitar o desenvolvimento da tuberculose ativa, especialmente nos contatos domiciliares, nas crianças e nos indivíduos com condições especiais, como imunossupressão pelo Vírus da Imunodeficiência Humana (HIV), comorbidades associadas ou uso de alguns medicamentos. “Para isso, é importante que a equipe de saúde realize a avaliação dos contatos de pessoas com tuberculose e ofereça o exame para diagnóstico da ILTB aos demais grupos populacionais, mediante critérios para indicação do tratamento preventivo”, afirma Erick Pordeus.

Além disso, como a doença é sensível à luz solar e a circulação de ar possibilita a dispersão das partículas infectantes, ambientes ventilados e com luz natural direta diminuem o risco de transmissão. A higiene da tosse ou seja, cobrir a boca com o antebraço ou lenço ao tossir, também é uma medida importante.

Capacitação adequada

Um dos desafios no combate à tuberculose está na capacitação dos profissionais de saúde para identificar e tratar a doença de maneira eficiente. Para Erick Pordeus, o treinamento em simulação é uma das estratégias para melhorar esse quadro de capacitação. “Contribui para a melhoria da qualidade do atendimento à saúde, já que os alunos e profissionais desenvolvem competências técnicas e aprendem a manejar casos complexos e desenvolver protocolos de atendimento mais eficazes”, defende.

O Centro de Simulação da Faculdade Pernambucana de Saúde, por exemplo, reproduz um ambiente real de hospital, com leitos, equipamentos, monitores, respiradores e bombas de infusão, além de manequins/robôs de alta fidelidade e atores de verdade. “O propósito é fazer com que o profissional atinja excelência, competência e atualização baseadas em evidências. Tudo isso em um ambiente livre de riscos, onde podem cometer erros e aprender com eles sem consequências graves”, complementa Brena Melo, a coordenadora pedagógica do CSim.

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