Câncer infantojuvenil é a primeira causa de morte entre crianças no Brasil

Tratamentos de câncer infantojuvenil em Pernambuco
O movimento Setembro Dourado alerta os pais para sinais do câncer infantojuvenil. FOTO: IMIP

Da Redação

Os tumores que atingem adultos, em geral, apresentam comportamentos diferentes dos que agem em crianças e adolescentes. Para estes, os prognósticos costumam ser melhores e cerca de 80% dos casos têm chances de cura, especialmente se diagnosticados precocemente.

Por se tratar de pacientes de menor idade, é necessário que os pais estejam bem-informados sobre os sintomas e as predisposições dos filhos. Por isso surgiu o movimento global Setembro Dourado, um mês inteiro de conscientização sobre a doença. O objetivo é a conscientização sobre esse tipo de câncer e apresentar novidades científicas e inovações importantes para a área.

No Brasil, o Instituto Nacional do Câncer (Inca) estima 7.930 novos diagnósticos a cada ano do triênio 2023-2025,  “Precisamos ter atenção especial para os tipos de câncer que afetam as crianças e adolescentes, pois eles são mais agressivos e a primeira causa de morte do público infantil”,  explica Sidnei Epelman, líder nacional da especialidade de oncopediatria da Oncoclínicas&Co.

Segundo ele, como são atingidas as células mais embrionárias, que têm rápido crescimento e proliferação, elas costumam ser mais agressivas. Por outro lado, possuem altas taxas de cura, inclusive, pela capacidade de recuperação do corpo jovem. “Temos, hoje, muitas inovações que melhoram a sobrevida e a taxa de cura dos pequenos. A campanha é fundamental pois os pais precisam ter acesso à informação, tanto da doença, mas também de onde, quando e como buscar ajuda”, completa Epelman.

Tumores e novas terapias

Os tumores mais frequentes em crianças e adolescentes são as leucemias (que afetam os glóbulos brancos); os linfomas (sistema linfático); o neuroblastoma (que se origina nas células do sistema nervoso periférico, frequentemente de localização abdominal); o tumor de Wilms (tipo renal); retinoblastoma (afeta a retina, fundo do olho); o tumor germinativo (das células que originam os ovários e os testículos), os osteossarcoma (que acomete os ossos); os sarcomas (tumores de partes moles) e os tumores que atingem o sistema nervoso central.

Inovações em engenharia genética, terapias-alvo e imunoterapia têm contribuído para melhorar o prognóstico e qualidade do tratamento da maioria desses tumores. “Hoje, por conta dessas pesquisas científicas, conhecemos mais o tipo de tumor e as operações. Como consequência,  conseguimos desenvolver drogas que atingem essas mutações de forma muito mais direcionadas ao tratamento. Isso também acontece para os adultos, mas nas crianças e adolescentes  vêm avançando com rapidez”, explica o médico.

Diagnóstico em crianças demanda mais atenção

Quando se trata de crianças e adolescentes, obter um diagnóstico precoce é mais difícil, afirma o especialista. Isso porque, além do tumor crescer mais rapidamente, há poucos “fatores de risco” para o desenvolvimento da doença. “Quando temos um adulto, consideramos também agentes externos como tabagismo e sedentarismo para determinar se há mais ou menos riscos. Com crianças é muito diferente, pela velocidade de crescimento do tumor e porque, nesses casos, poucas vezes os fatores ambientais têm papel. Embora possam existir aspectos genéticos, eles não determinam com certeza se a pessoa vai ou não desenvolver a doença”, comenta.

Então, o que os pais podem fazer? “Responder essa questão é muito difícil, pois ninguém acha que o filho vá ter câncer. No entanto, o câncer, muitas vezes não tem explicação, são apenas células que começam a se multiplicar além do normal, sem sabermos o porquê. O que gosto de dizer é que os pais e/ou responsáveis devem ficar atentos”, observa o oncopediatra.

Para ele, esta é a importância da campanha. “São diversos tipos de tumores, cada um com sintomas diferentes. Estar informado, por exemplo, sobre como identificar que uma mancha no olho pode ser um sinal de retinoblastoma, é fundamental. Além disso, saber onde e quando procurar um especialista, é igualmente essencial”, completa Sidnei Epelman.

Exames podem ajudar no diagnóstico

Há exames que podem identificar certos tipos de condições em pacientes. “Se você tem uma criança com uma alteração, não é necessariamente uma doença familiar, mas uma má formação genital, ela tem que ser acompanhada com ultrassom para ver se não vai desenvolver um tumor de Wilms, um tumor renal. Algumas crianças com síndrome, por exemplo, com neurodermatite, uma doença hereditária, tem uma incidência maior de tumor cerebral. Especialmente se for no nervo óptico, ela tem que ser assistida com ressonância. Depende muito de cada uma das síndromes e das malformações para poder acompanhar”, afirma o médico.

Para Epelman, as inovações na área da oncologia infanto-juvenil buscam tornar o tratamento mais efetivo e com melhor qualidade de vida para cada paciente. “O que nós temos de mais avançado está nesse conhecimento científico maior. Precisamos de laboratórios que estejam preparados para todos os tipos de diagnósticos, utilizando nformações que já conseguimos ter, por meio da biologia molecular e dos testes genéticos. Essa é uma das grandes novidades e leva muita esperança para crianças e adolescentes”, finaliza.

Tumores mais comuns

De acordo com o Instituto Nacional de Câncer (INCA), o ranking de tumores infanto-juvenis mais prevalentes e seus percentuais de incidência no Brasil são:

●        Leucemia – é o tipo de câncer mais comum, representando de 25% a 35% de todos os tumores infantis. Acomete a medula óssea e outros órgãos fora da medula óssea, tais como sistema nervoso central, testículos e olhos.

●        Tumor do cérebro e sistema nervoso central – segundo tipo mais comum em crianças, inclui os tumores cerebrais e do sistema nervoso central, correspondendo a cerca de 20% dos casos.

●        Linfomas que atingem o sistema linfático – frequentemente afetam os gânglios linfáticos e os tecidos linfáticos, como amígdalas ou timo. Também podem afetar a medula óssea e outros órgãos. Existem dois tipos da doença: o linfoma não Hodgkin (LNH) e o linfoma de Hodgkin (LH), que apresentam sinais, comportamentos e tratamentos diferentes. O primeiro representa 7% dos cânceres na infância, enquanto o segundo representa 6%.

●        Neuroblastoma – um tipo de tumor de células do sistema nervoso periférico, frequentemente de localização abdominal. É responsável por cerca de 8% dos cânceres infantis. Esse tipo de câncer ocorre em lactentes e bebês, sendo raro em crianças com mais de 10 anos;

●        Tumor de Wilms – tem início em um dos rins, raramente afetando os dois órgãos. Mais frequentemente diagnosticado em crianças com idade de 3 a 4 anos. Representa 7% dos cânceres infantis.

●        Sarcomas – os tipos mais comuns em crianças e adolescentes são o osteossarcoma e sarcoma de Ewing, que atinge os ossos e partes moles. Eles representam, aproximadamente, 5% dos casos, lembrando que o sarcoma de Ewing é raro e não impacta no percentual total.

●        Retinoblastoma – tumor que atinge a retina, ou seja, o fundo do olho. Representa cerca de 2% dos cânceres infantis, segundo Sidnei Epelman. Geralmente ocorre em crianças na faixa etária de 2 anos de idade e raramente é diagnosticado após os 6 anos. Ao direcionar uma luz ao olho de uma criança, o normal é que a pupila apareça vermelha, devido ao sangue dos vasos do fundo do olho. No olho com retinoblastoma, a pupila tem o aspecto branco ou rosa. Este brilho branco no olho geralmente é percebido em fotos tiradas com flash;

Os dados estão disponíveis em documentos e publicações do INCA, como a “Estimativa 2023: Incidência de Câncer no Brasil”, que oferece uma visão geral dos tipos mais comuns de câncer em diferentes faixas etárias.

Pequenos heróis

Para apoiar na conscientização sobre o câncer infanto-juvenil, ao longo do mês de Setembro, estará no ar a campanha “Crianças não precisam ser precoces. Mas o diagnóstico do câncer, sim” da Oncoclínicas&Co. A ação promove conteúdos informativos e estimula a observação de sinais de alerta como palidez, febres prolongadas, emagrecimento, dores nos ossos ou dor de cabeça com vômito. Com ativações em redes sociais, ambientes físicos e anúncios nas grandes mídias, a iniciativa tem por objetivo incentivar o diagnóstico e tratamento precoce, aumentando assim as chances de cura. Para mais informações, acesse: www.cuidarsemlimites.com.br/setembro-dourado

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