
Por Catarina Albertim
Todo processo de reabilitação tem por objetivo promover o fortalecimento, considerando os lados físico e mental dos pacientes. E a tecnologia possui um importante papel como agente facilitador de medidas que promovem melhoria da qualidade de vida desses indivíduos. Nessa perspectiva, a dissertação de mestrado “Uso da realidade virtual na reabilitação de membro superior em pacientes pós-AVC” construiu um protótipo que combina impulsos neurais dos usuários por meio da interação com um jogo de arremesso virtual, visando à recuperação e à utilização do membro superior.
A pesquisa foi desenvolvida no Programa de Pós-Graduação em Engenharia Biomédica (PPGEB), da Universidade Federal de Pernambuco (UFPE), em parceria com o Laboratório de Interface Homem-Máquina, vinculado ao Departamento de Engenharia Biomédica do Centro de Tecnologia e Geociências (CTG) da UFPE, no Campus Recife. A dissertação foi desenvolvida por Leiliane Patrícia Gomes de Macêdo,, em 2022, sob orientação do professor Marco Aurélio Benedetti Rodrigues.
No estudo, foi estabelecida uma relação interface homem-máquina, juntamente com recursos de realidade virtual imersiva (RVI) e eletromiografia (EMG), para auxiliar na reabilitação do membro superior de pessoas com sequelas de Acidente Vascular Cerebral (AVC). Na parte imersiva, a pesquisadora construiu um jogo personalizado em que o participante usa óculos de realidade virtual e utiliza o membro, sob estímulo neural, para simular um arremesso ao gol. “A ação captura a atividade muscular na parte superior do corpo do paciente encorajando a reabilitação por meio de impulsos neurais”, explica Leiliane, O estudo teve participação de cinco pessoas, com idades de 55 a 72 anos e com a cognição preservada. Os resultados apontaram grau de satisfação positivo.
Para Leiliane a motivação é um elemento indispensável na retomada de afazeres dos pacientes acometidos por AVC e o processo requer medidas dinâmicas para garantir o interesse e resposta dos pacientes. “É importante promover interatividade na proposição de exercícios. Os pacientes neurológicos acabam passando muito tempo no processo de reabilitação para conseguir aprender novamente alguma função que foi perdida em decorrência da lesão”, considera ela.
Protótipo conectado a smartphone
Para compor o protótipo, a parte imersiva utiliza um jogo voltado a “capturar e detectar contrações musculares mesmo nesses indivíduos que apresentam alteração do tônus muscular em decorrência da sequela do AVC”, revela Leiliane Macêdo. Para isso, foi necessário construir toda parte de hardware, software e firmware – cada uma destas conectadas via bluetooth com um smartphone. Isso proporciona praticidade, melhor custo-benefício e acessibilidade aos usuários.
A pesquisadora ainda esclarece que, durante a atividade, “o paciente recebe feedbacks (visuais, auditivos e motivacionais), e são esses feedbacks que geram os estímulos neurais que influenciam na realização da atividade”. Uma vez que o jogo é iniciado, os participantes realizam o arremesso virtual, com a intensidade singular, o que pode determinar o gol ou não. Também há um intervalo entre os arremessos, o que impossibilita que estímulos contínuos disparem a bola.
Por se tratar de um estudo de desenvolvimento tecnológico seguido de teste de usabilidade e funcionalidade, a autora aponta a necessidade de dividir a metodologia do trabalho em quatro partes. A primeira é destinada à revisão sistemática de literatura e ao desenvolvimento do instrumento (parte física e jogo). Em seguida, feita a estrutura de quais seriam as amostras selecionadas. A terceira etapa foi centrada na coleta dos dados (teste do instrumento); e a quarta foi dedicada à identificação da satisfação dos usuários.
A alternativa construída no protótipo combina, de maneira interdisciplinar, noções de Biomedicina e tecnologia, todas adaptadas para a saúde dos pacientes. O produto se coloca, assim, como uma medida viável e de fácil acesso para auxiliar indivíduos na fase pós-AVC.
Proposta para interatividade e independência
A proposta de desenvolver estímulos para o membro superior foi motivada diante da necessidade de adaptação e concentração dos estímulos, uma vez que estas costumam se concentrar no controle e recuperação do tronco. “O membro superior acaba entrando em desuso porque é mais fácil o paciente utilizar o outro segmento que não apresenta disfunção”, comenta Leiliane.
Diante disso, a proposta do jogo consiste em proporcionar aos pacientes mais interatividade e independência a partir do estímulo para arremessar a bola, simulando arremessos com obstáculos (presença de goleiro). “O paciente vai movimentar o membro superior, então, vai trazer aspectos importantes para recuperar a função do membro de uma forma mais lúdica”, conclui a pesquisadora.
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