Humanização tecnológica – o novo momento da medicina

Na Real Clínica Médica residentes praticam a medicina humanizada e nem por isso menos tecnológica - FOTO: Divulgação

Etiene Ramos

A medicina e o uso das tecnologias no Brasil agora se dividem entre o Antes da Pandemia da Covid-19 e o Depois da Pandemia da Covid-19. Até 2020, o Conselho Federal de Medicina ainda não havia regulamentado as teleconsultas. Isso  só veio acontecer quando a doença já atingia números alarmantes de pacientes infectados e de mortes.

Com a regulamentação, Estados e prefeituras desenvolveram serviços de teleconsultas e de agendamentos que serviram depois para a vacinação contra a covid-19. Na assistência suplementar o salto foi considerável. Tecnologia já havia, mas faltava confiança entre médicos e pacientes de que consultas à distância seriam eficazes e não afastariam os clientes dos consultórios.

Para Dr. Francisco Barretto, o Dr. Chicão, essa mudança foi um grande avanço e veio a repercutir na relação médico-paciente. “Hoje o acesso à informação médica, de saúde, está ao alcance de todos. Hoje se pode dar assistência médica à regiões isoladas, como a Amazônia, ao homem isolado. As comunicações tornaram tudo mais fácil. A telemedicina se tornou muito forte”, observa.

Na Real Clínica Médica do Hospital Português do Recife, onde é diretor, Dr. Chicão pode acompanhar seu paciente que quer uma segunda opinião de um especialista de renome mundial, que atende nos Estados Unidos ou na Europa, por exemplo, por meio de uma videoconferência. “É uma nova etapa da medicina. Temos todo um aparato anterior, enviamos exames para o médico que está fora do país, ele analisa e já vai avaliar se precisará de internamento, se tem leito disponível. Isso reduz os custos do paciente com viagens ao exterior para avaliação do seu caso e um possível tratamento”, declara.

Mas além das facilidades de atendimento, as novas tecnologias, na opinião do Dr. Chicão, têm melhorado o nível dos novos médicos que escolhem fazer residência onde existe maior uso de tecnologias, como na Real Clínica Médica. “Nossos residentes estão melhores do que a gente quando saia da universidade, melhores dos que os se formavam na minha época. Quando se fala em tecnologia, eles procuram os serviços que mais oferecem. O Hospital Português é uma cidade e aqui o residente adquire experiência e se conecta com outros grandes centros de saúde como São Paulo ou fora do país”.

No entanto, Dr. Chicão observa uma tendência nos formandos que não é compatível com a prática da medicina humanizada que ele sempre praticou e ensina. “Por confiança demais na tecnologia, porque sei o que me diz o ecocardiograma, não me levanto mais para fazer exame físico no paciente. Vejo, na formação, um certo retraimento dos residentes ao exame físico, que é fundamental. Um aperto de mão, ouvir a voz pode dar um diagnóstico. Pede-se exames só para confirmar”, afirma.

Quando isso falta, a expectativa do doente é prejudicada. Se o médico não examina, tira a pressão, palpa para investigar o problema, o paciente entende como indiferença e se queixa de entrar num consultório e o médico nem olhar para ele. “É como Luiz Gonzaga cantava: ele nem olhou pra mim, já chegou contando as horas bebeu água foi embora e nem sequer olhou pra mim”, cantarola Dr. Chicão, com seu típico bom humor.

Mas logo fica sério e adianta um dos aspectos da sua seleção de residentes. “Meu residente? Se estiver aqui não tem porém. Se quiser só passar um remedinho, aqui não fica. Tem que examinar, cuidar, ouvir. Neste sentido estamos formando médicos diferenciados para o mercado. Eles somam a prática humanizada com o domínio das novas tecnologias”, explica Dr. Chicão.

No dia a dia do consultório, ele não reclama do “Dr. Google”, a que muitos pacientes recorrem antes da consulta. “Os pacientes hoje chegam cheios de informações, muitas vezes tanto quanto o médico.  Podem chegar sabendo o que pode ter ou não pode ter. Acho isso muito bom. A conversa flui melhor. É fundamental que o doente compreenda o que ele tem e é um direito saber e as consequências de seguir ou não os conselhos dados pelos médicos”, afirma.

Para Dr. Chicão, isso inclui o direito de não tomar os remédios. Minha função é dizer os efeitos colaterais se ele segue e o que acontece se não segue. A relação com o médico ainda é muito paternal, mas deve ser de companheirismo. Ninguém engole remédio sem engolir a receita. Tem que tomar a receita antes”, diz o clínico, do alto dos seus quase 60 anos de medicina.

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