Instituto do Fígado do Santa Joana Recife vai ajudar a reduzir demanda por transplantes em Pernambuco

Exames preventivos e hábitos saudáveis estão entre as recomendações para reduzir os riscos de câncer de fígado. FOTO: Mateus Pereira - AGECOM GOV-BA

 

 

Etiene Ramos

O primeiro transplante do Instituto do Fígado do Hospital Santa Joana Recife, inaugurado no final de outubro, mudou a vida de um paciente de 35 anos que sofria de uma doença autoimune, a colangite esclerosante primária – de rara incidência.

No último dia 4 de novembro, quando a oferta do órgão a ser transplantado veio do Hospital da Restauração, da rede pública estadual, por volta das 17h, a comunicação e a logística entre os dois hospitais foi rápida. Vizinhos, no bairro das Graças, Zona Norte do Recife, eles mobilizaram suas equipes e em duas horas o paciente, que aguardada a doação na fila nacional de transplantes, já estava internado. No início da madrugada a cirurgia começou. Às 7h do dia seguinte, o fígado, doado após o óbito de um familiar, trouxe de volta ao paciente e sua família, a qualidade de vida perdida com a doença.

O caso inaugural do primeiro serviço privado de transplantes de fígado do Recife foi coberto pelo plano de saúde do paciente, uma obrigação determinada pela Lei 14.454, de setembro de 2022.  Até então, só os transplantes de rim, córnea e medula estavam previstos no rol da Agência Nacional de Saúde Suplementar (ANS). Com a nova legislação, as principais exigências passaram a ser o pedido médico e a comprovação científica de que o transplante é a conduta médica a ser adotada diante da condição do paciente.

Ao estender a obrigatoriedade para outros transplantes como os de coração, fígado e pâncreas, a nova lei começa a dar mais chances de vida aos perseverantes da fila única do Sistema Único de Saúde (SUS). Traz também oportunidades para a instalação de novas unidades e serviços privados que podem reduzir a fila nacional de transplantes onde, segundo o Ministério da Saúde, cerca de 65 mil pessoas aguardam a doação de um órgão que seja compatível e possa chegar a tempo – não só de ser transplantado mas, principalmente, de evitar uma nova morte.

Tiberio Medeiros, hepatologista e um dos coordenadores do Instituto do Fígado Santa Joana Recife. FOTO: Divulgação

“Em Pernambuco, a rede pública de saúde realiza entre 100 e 120 transplantes de fígado por ano. Para atender às necessidades, teriam que ser pelo menos 250 por ano. Temos legislação, equipes técnicas, hospitais e um sistema interligado em todo o país, mas ainda é preciso aumentar muito a doação de órgãos”, afirma o médico hepatologista Tibério Medeiros, coordenador do Instituto do Fígado do Santa Joana Recife, junto com o cirurgião digestivo Rommel Pierre.

Instituto multidisciplinar

A nova unidade é multidisciplinar e reúne especialistas em gastroenterologia, hemodinâmica, endoscopia, cirurgia digestiva e hepática, entre outras, para agilizar a conclusão do diagnóstico e definir o melhor tratamento para o paciente – não só de doenças do fígado, mas também do pâncreas e vias biliares. “Tínhamos médicos especializados, equipamentos, todas as ferramentas para fazer transplantes e tratar as doenças com fígado, como a cirrose. A lei que obrigou os convênios de saúde a pagarem os transplantes foi um incentivo para desenvolvermos o Instituto do Fígado e oferecer um atendimento mais completo, mais rápido e multiprofissional aos pacientes”, explica Medeiros.

Atenção redobrada

Embora o câncer de fígado já seja o quinto em maior incidência no Brasil, e com a cirrose seja a doenças mais conhecida do órgão, a esteatose – a chamada gordura no fígado, vem crescendo e respondendo pelo agravamento dos casos. “A esteatose pode levar à cirrose, que é um estágio mais avançado de agressões ao fígado, quando ocorre a substituição de um tecido normal por um tecido de cicatrização. O órgão pode se regenerar, até crescer de novo se perder uma parte, mas se a pessoa tiver cirrose, não volta a ter as células saudáveis que tinha”, detalha Tibério Medeiros.

O próximo estágio é o câncer de fígado que, se descoberto no início, pode ser curado, seja por procedimento hemodinâmico ou por transplante. Exames de imagem como a elastografia hepática, feito com equipamentos de ressonância magnética e ultrassom, avaliam a elasticidade do fígado e se está comprometida por cirrose, hepatite ou mesmo o câncer. “Hoje temos ferramentas que podem documentar todas as doenças do fígado e a partir daí iniciarmos o tratamento”, afirma o hepatologista.

Diante do crescente número de casos, ele alerta que o câncer de fígado só costuma apresentar sintomas em fases mais avançadas e o principal é a perda de peso, sem explicação. “De modo geral, os pacientes deste tipo de câncer não apresentam queixas, o que leva a diagnósticos tardios. É importante fazer exames preventivos, em especial se há casos da doença na família ou se a pessoa teve esquistossomose. Vale a pena também adotar um estilo de vida saudável, evitando alimentos muito processados e muita bebida – embora seja um mito que o álcool é a principal e única causa da cirrose”, conclui o médico.

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