Conheça a osseointegração, cirurgia inovadora para pacientes amputados

O procedimento é levado para o Brasil após 1 ano e 8 meses do primeiro procedimento realizado no Recife

Pacientes que levam uma vida melhor após a Osseointegração. Foto: Divulgação/HCP.

Por Fiamma Lira

O ortopedista oncológico do Hospital do Câncer de Pernambuco, Dr. Marcelo Souza, é pioneiro da osseointegração no País. Maria Leidjane Pereira da Silva foi primeira paciente beneficiada com essa cirurgia, em 2022. A amputação dela foi devido a um câncer ósseo enfrentado há alguns anos. A cirurgia completa 1 ano e 8 meses.

O médico levou a operação inovadora para outros estados. O ortopedista fez a condução da equipe médica responsável no HC da USP em Ribeiro Preto, em dezembro de 2023. Ele atuou em conjunto com o Prof. Edgard Engel e Dr. Nelson Gava Silvia, colegas no projeto de osteointegração na cidade. Silvia Martinelli foi amputada há 34 anos, depois de ser atropelada e não conseguia andar com as próteses.

O ortopedista do HCP relata como funciona o procedimento. “O procedimento denominado de Osseointegração, refere-se a implantação de um material biocompatível dentro de um osso e que venha a se fixar de forma natural passando a fazer parte do corpo de pessoa. O exemplo mais fácil para entender isso é o implante dentário”, exemplifica.

O especialista ainda comenta sobre a origem do termo. “Originalmente esse termo osseointegração foi criado pelo Prof. Per-Ingvar Branemark, dentista sueco e que iniciou esse novo capítulo da implantologia dentro da odontologia. Seu filho, Rickard Branemärk, ortopedista, aproveitou a ideia original do seu pai e aplicou em pacientes amputados usando os mesmos princípios da osseointegração”, complementa.

Origem da Osseointegração

De acordo com o Dr. Marcelo, O professor Per-Ingvar Branemärk, realizou diversas pesquisas em animais e chegou a conclusão da capacidade do metal titânio se integrar ao osso. Depois desse episódio, o professor iniciou seus experimentos, ampliando nos seres humanos. Da mesma forma o dentista realizou vários experimentos em animais de laboratório. Assim, ele constatou a capacidade de osseointegração de seu implante. Após a autorização dos órgãos competentes começou a implantar nos seres humanos. Esse fato ocorreu em 1990, na cidade de Gothenburg.

O ortopedista do HCP, revela que conheceu o método há 17 anos, em um estágio nos Estados Unidos. “No caso do Brasil, eu tomei conhecimento do método há cerca de 17 anos quando me encontrava em um estágio no Huntsman Cancer Institute, Utah, USA, e vim a conhecer o próprio Dr. Rickard Branemärk. Mais tarde fui à Suécia e participei de operações com ele. Desde então, vinha tentando viabilizar a importação de um dos implantes disponíveis no mercado europeu porém sem sucesso, principalmente face ao elevado custo e dificuldade para certificação dos fabricante e, mais tarde, do registro do implante aqui no Brasil perante a ANVISA”, esclarece.

Dr. Marcelo ainda diz que trabalhou no desenvolvimento do implante baseado nas suas experiências profissionais na área. “Por fim desenvolvi um implante baseado em minha experiência pessoal com artroplastia de revisão em quadril com implantes que se valem dos mesmos princípios de osseointegração. Dessa forma, adaptamos um implante para as necessidades de um paciente amputado e o projeto foi abraçado pela empresa brasileira IMPOL, de São Paulo, que deu início a todos os testes de laboratório e, por fim, submeteu a apreciação da ANVISA, vindo a obter o registro em 2021”, detalha.

A primeira paciente beneficiada com a Osseointegração junto com o médico responsável pela operação. Foto: Divulgação/HCP.

Panorama no Brasil

Desde 2012, cerca de 245 mil brasileiros foram submetidos a amputações de membros inferiores o que equivale dizer que a cada hora ao menos três pessoas são amputadas no Brasil, de acordo com o ortopedista oncológico. As causas mais comuns são decorrente de diabetes, problemas vasculares, acidentes de trânsito e tumores malignos.

Em média, 40% dessas pessoas amputadas não se adaptam aos encaixes das próteses tradicionais. A osseointegração vem para resolver o problema desse quantitativo de pessoas que acabam dependendo de um par de muletas para a sua locomoção.

Necessidade de expansão

O médico ortopedista destaca a necessidade de ampliar o procedimento em outros locais do Brasil e do mundo. “Considerando o Brasil ser um país de dimensões continentais, necessitamos criar centros especializados nesse novo capítulo da medicina brasileira chamado Osseointegração. Assim, estamos aos poucos operando e treinando alguns outros colegas interessados em outras cidades de forma a poderem atender a demanda da população local”, ressalta.

O Dr. Marcelo acrescenta que está expandindo o método para especializar outros médicos, não apenas a nível local, mas também nível nacional e internacional. “Já estivemos em Ribeirão Preto no HC da USP, no Hospital Mário Covas, também em São Paulo e pertencente a Fundação ABC e também no Hospital da Baleia em Belo Horizonte. Já fomos ministrar cursos na Argentina, Bolívia e Guatemala”, enfatiza.

Segundo o coordenador, alguns centros fora do Recife também já estão interessados em desenvolver a técnica da osseointegração. O HC da USP de Ribeirão Preto aprova um projeto de pesquisa no qual serão operados 30 pacientes amputados. E eles serão estudados sob vários aspectos.

Pacientes com uma vida melhor após a Osseointegração. Foto: Divulgação/HCP

Registro na Anvisa

O médico é Coordenador Científico do Departamento de Ortopedia Oncológica do Hospital do Câncer de Pernambuco. Ele conta que o BOP-Brazilian Osseointegration Prosthesis, está registrado na ANVISA como endoprótese não convencional distal de fêmur e proximal de tíbia.

Segundo o especialista, há a possibilidade de fazer a cirurgia pelo SUS. “Assim, temos como viabilizar o procedimento para pacientes do SUS, para aqueles amputados de causa tumoral. Na rede complementar de saúde, o procedimento Osseointegração ainda precisa ser registrado no rol de procedimentos da Agência Nacional de Saúde-ANS”, frisa.

Planos de Saúde

O ortopedista comenta as barreiras dos planos de saúde na adoção da cirurgia e as consequências disso. “A negação por parte dos planos de saúde certamente levará a inúmeros processos judiciais, haja visto as evidências clínicas de todos os benefícios promovidos pelo procedimento. Pacientes de caráter privado já podem ser operados sem nenhuma dificuldade. Vale ressaltar a vasta quantidade de trabalhos publicados na literatura mundial”, informa.

Paciente com maior conforto e comodidade após o procedimento. Foto: Divulgação/HCP.

Benefícios

O procedimento proporciona mais qualidade de vida e bem-estar para os pacientes. “Até o momento, operamos treze pacientes no Brasil, sendo dez em Recife, dois em São Paulo e um em Minas Gerais e que tem demonstrado a validade do procedimento, sobretudo pela melhora exponencial da qualidade de vida dessas pessoas”, enfatiza.

O especialista complementa que a operação traz maior conforto, segurança e comodidade na vida dos pacientes operados pelo procedimento da osseointegração. Essas ações não refletem apenas o avanço da medicina, mas é um reflexo do trabalho realizado pelo Hospital do Câncer de Pernambuco.

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