Obesidade: riscos à saúde podem levar à cirurgia bariátrica

A obesidade é uma patologia crônica, que precisa de acompanhamento médico e tratamento adequado.

A cirurgia bariátrica, aliada a uma reeducação alimentar, é a forma mais eficiente de tratamento da obesidade. Foto: Freepik.

Por Fiamma Lira

A obesidade é um problema de saúde pública global. São cerca de 700 milhões de pessoas convivendo com a doença no mundo, de acordo com a Organização Mundial de Saúde (OMS). No Brasil, a OMS prevê 700 milhões de obesos até 2025. Hoje, no Brasil, segundo o Ministério da Saúde, 25% da população tem diagnóstico de obesidade .

Para o gastroenterologista José Câmara, presidente em Pernambuco da Sociedade Brasileira de Cirurgia Bariátrica e Metabólica (SBCBM), um dos fatores que contribuem para o cenário é a alimentação inadequada. “Uma das principais causas para a obesidade é a alimentação errada que a gente tem. Cada vez mais são produzidos alimentos ultraprocessados, com bastante açúcar, que são de fácil digestão, de fácil aceitação e que não tem o teor nutricional adequado”, diz o médico.

Coordenador do Centro de Obesidade e Diabetes do Hospital Santa Joana Recife, José Câmara também aponta a falta de atividade física e o sedentarismo como outro fator de risco para a obesidade e inclui a violência urbana. “Cada vez mais as pessoas se exercitam menos. Seja porque tudo está mais prático, tudo é controle remoto, tudo é internet, tudo é Ifood, enfim. Acredito que a violência entra um pouco nisso porque faz com que as pessoas saiam menos de casa”, observa.

Além dos fatores genéticos e de comportamento para o desenvolvimento da obesidade, o gastroenterologista aponta a contribuição da pandemia da covid para o cenário. “O período da covid-19 obrigou as pessoas a ficar em casa, causando impactos do ponto de vista emocional. Muitos pacientes relatam que aumentaram muito de peso no período da pandemia, por razões psicológicas e falta de atividade física.”, declara José Câmara.

Formas de avaliar a obesidade

O cálculo do Índice de Massa Corporal (IMC) é a maneira mais usual para avaliar corretamente se uma pessoa tem ou não obesidade. “A forma mais comum e mais simples de avaliar se o paciente é obeso é pelo cálculo do IMC. Pelo índice podemos analisar, fazer uma equação, uma conta, onde avaliamos o peso do paciente dividido pela altura vezes a altura. Quando o resultado dá entre 25 2 29.9, se fala que o paciente tem, pelo menos, o sobrepeso. Com IMC acima de 30, o diagnóstico é de obesidade. A partir daí existem vários graus”, detalha o cirurgião bariátrico.

De acordo com o médico,  há outros meios para análise do quadro de obesidade. como as medidas de circunferência abdominais. Muitas vezes o nutricionista, o endocrinologista ou qualquer outro profissional pode avaliar. “Um exame fantástico é a bioimpedância, uma avaliação da composição corporal. Ele é super rápido. O paciente tem um pequeno preparo simples. Sobe numa balança específica que analisa o percentual de gordura corporal, a massa de músculo que o paciente tem, a massa de gordura e dá um diagnóstico mais preciso do peso total”, explica.

Importância da reeducação alimentar e atividade física

O gastroenterologista ressalta a importância de um alimentação saudável e da atividade física contínua. “Todo tratamento passa por reeducação alimentar e a prática de atividade física, requisitos que fazem parte de qualquer tratamento proposto. Existem além destes, os medicamentos – sejam comprimidos, injetáveis e as famosas canetinhas”, explica.

José Câmara ressalta que os medicamentos possuem ações distintas no organismo de cada pessoa. “Hoje os medicamentos tentam imitar alguns hormônios benéficos, vamos chamar assim, que o nosso organismo produz para reduzir a vontade de comer e haja um aumento da saciedade. Eles podem estimular o nosso pâncreas, a fim de melhorar a resposta da insulina”, diz.

Segundo ele, aliados à dieta,  atividade física e medicação, existem os métodos chamados endoscópicos, como os balões que são colocados no estômago e permanecem por um tempo, em média 6 meses, podendo chegar a um ano.

Potência da cirurgia bariátrica

Mas, para Câmara, a cirurgia bariátrica tem mais força do que outras técnicas. “Isoladamente, se for comparar com cada um dos outros tratamentos, ela é disparada a mais potente. Mas para que o melhor resultado aconteça, o paciente tem que fazer a parte dele, lembrando da reeducação alimentar e da atividade física, sem esquecer que o paciente tem que estar num bom estado de saúde mental. Alguns pacientes têm compulsões, muitas vezes têm ansiedade e a saúde mental também faz parte do controle da obesidade”, enfatiza.

José Câmara destaca que por ser uma doença crônica, ela pode retornar na vida do paciente. “A cirurgia bariátrica é considerada o método mais efetivo para controle da obesidade. Veja que eu estou usando o nome controle, não estou falando de tratamento. Porque a obesidade é considerada uma doença crônica e a gente fala recidivante, porque pode voltar. Então, tem que haver um controle constante da situação de obesidade. A cirurgia bariátrica, atua reduzindo, forma geral, a quantidade de alimentos que o paciente pode ingerir, porque vai mexer no estômago”, elucida.

Técnicas mais comuns para o tratamento da obesidade

Além da cirurgia bariátrica, existem outras técnicas de tratamento para as pessoas obesas. “Existem mais de uma técnica. As mais comuns hoje realizadas no Brasil e no mundo são o Sleeve Gástrico, que é a gastrectomia vertical, que  atua apenas sobre o estômago. Outra técnica, muito realizada, é o chamado By Pass Gástrico. Este By Pass reduz o tamanho do estômago e cria um desvio do intestino para o pequeno estômago que foi formado. Então, há uma redução na quantidade de alimentos ingeridos nas duas técnicas, que fazem o alimento chegar mais rápido no intestino, seja por qualquer uma das técnicas”, explica o gastroenterologista.

Benefícios da Bariátrica para a obesidade

Um dos benefícios da bariátrica para a pessoa obesa, é que o alimento chega de modo mais ágil no intestino humano. “E em muitos casos, ela vai fazer com que o alimento chegue mais rápido no intestino. Quando o alimento chega mais rápido no intestino, há a liberação de alguns hormônios que vão atuar em outros órgãos, incluindo o sistema nervoso central, trazendo os verdadeiros benefícios da cirurgia.

Antes, acreditava-se que a melhora das condições era somente por causa da perda de peso do paciente. No entanto, há outras vantagens do procedimento cirúrgico. “A perda ajuda muito, é claro. Mas existem alterações metabólicas que vão contribuir para a manutenção da perda de peso. Os benefícios são exatamente reduzir o peso e tratar as comorbidades, que são as doenças associadas à obesidade. As mais comuns são pressão alta ou hipertensão arterial sistêmica, a diabetes mellitus tipo 2 e a dislipidemia.  São as alterações do colesterol ou triglicerídeo, a gordura no fígado, o refluxo e tantos outros”, declara.

Equipe multidisciplinar na cirurgia

O cirurgião bariátrico conta o valor de ter uma equipe com vários especialistas na condução da operação. “O cuidado principal é o acompanhamento por uma equipe que tenha experiência com este tipo de cirurgia. Normalmente, a gente chama de equipe multidisciplinar, porque tem várias especialidades envolvidas . Então, tem o cirurgião bariátrico, o nutricionista, o endocrinologista, o hepatologista,  que é o médico do fígado, além do cardiologista, pneumologista, enfim. Algumas vezes, temos também o psiquiatra”, observa.

É importante e necessário enfatizar que a cirurgia não atua sozinha. “O cirurgião e a equipe tem que estar muito bem entrosados para dar o melhor tratamento ao paciente. Ele é visto de vários ângulos, de forma que seja visto de forma integral. Então, é seguir as orientações da equipe multidisciplinar, tanto antes como após a cirurgia. É fundamental uma mudança de hábitos, do ponto de vista de alimentação, ou seja, uma reeducação alimentar. Atividade física é sempre muito estimulada e existem protocolos de cada equipe, mas no pós-operatório, naturalmente, tanto no pré como no pós-operatório, os exames e as taxas precisam ser controladas, avaliadas e, se identificado qualquer alteração, deve ser corrigida”, finaliza.

Quem desejar mais informações sobre o tema e o trabalho do cirurgião, pode acompanhar o seu perfil do Instagram: @drjosecamara.

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