
Da Redação
Os benefícios da terapia assistida por cães no tratamento de crianças com Transtorno do Espectro Autista (TEA) são alvo de pesquisa desenvolvida no HC – Hospital das Clínicas da Universidade Federal de Pernambuco (UFPE). A cinoterapia, como o método terapêutico é conhecido, envolve a interação entre crianças autistas e cães especialmente treinados e vem se destacando pelos relatos de melhoras significativas das crianças atendidas.
“Em apenas três sessões, os pais já relatam resultados positivos. Na terapia, as crianças chegam, sentam-se em círculos com a cadela golden retriever Mina, de seis anos, e iniciam a terapia. Trabalhamos os aspectos cognitivos, sensoriais, linguísticos, de comunicação e sociais”, explica a enfermeira do HC Andréa Patrícia Souza, que realiza o estudo para sua dissertação do Programa de Mestrado Profissional em Saúde Única da Universidade Federal Rural de Pernambuco (UFRPE).
“As crianças não tinham interação em pares anteriormente, com outros coleguinhas, mas hoje já interagem em um grupo de seis”, completa a pesquisadora. O processo dura oito semanas e os resultados iniciais são muito importantes num tratamento do TEA – uma condição complexa que afeta o desenvolvimento de habilidades sociais e de comunicação das crianças. Ao final da terapia, os pais são orientados sobre o relacionamento diário com os filhos e rotinas em casa, especialmente em relação à maneira de agir em determinadas situações frequentes.
Os terapeutas Liz Matos e Bruno Farias, donos de uma clínica dedicada à cinoterapia, são os treinadores da cadela Mina. Voluntário no projeto, eles têm uma conexão forte com o HC, pelo papel do hospital na formação acadêmica do casal e por ser o local onde seus filhos gêmeos nasceram. “A gente gosta dessa causa, dessa casa (o HC). O projeto é fantástico e trabalhamos com crianças dentro do espectro autista há muito tempo. Então, vimos que tinha tudo para contribuir, e é por isso que viemos”, explicou Farias, que tem habilitação em psicoterapia, acupuntura e zooterapia.
Além de Mina, outra golden participante do projeto é a cadela Nina, de quatro anos. “É essencial que todos os animais sejam equilibrados e não apresentem reatividade ou hipoatividade, garantindo, assim, uma interação ideal com as crianças”, esclarece Liz, terapeuta ocupacional e zooterapeuta.
Selecionados por um minucioso processo de avaliação, os animais passam um período interagindo com os filhos do casal, na sua própria residência, para que se possa l entender melhor o comportamento deles com crianças.
Jaqueline Bernardo, moradora do Ibura, na Zona Sul do Recife, é mãe de um menino de quatro anos que participa das sessões de terapia no HC. Ela conta que a criança costumava se isolar bastante mas hoje demonstra uma notável melhora em sua capacidade de interagir com outras crianças. Segundo a mãe, o filho perdeu o medo de animais e teve melhoras significativas no comportamento, por isso ela tem se dedicado a proporcionar todas as oportunidades que possam contribuir com o desenvolvimento da criança.
“Agora, todo cachorro que Gabriel vê na rua, ele quer mexer. A terapia tem sido muito positiva para ele. A gente sai cedo e vai para a fonoaudióloga primeiro, para não perder a terapia, porque fez diferença na vida de Biel. Hoje, ele está uma criança mais tranquila, mais concentrada. Ele não ficava assim quietinho. Biel ficava correndo, gritando e chorando. Ele era conhecido aqui como Gabriel Chorão, e hoje está bem melhor. Graças às terapias, que fazem toda a diferença na vida dele”, contou Jaqueline.
A enfermeira Andréa Patrícia ainda explicou que, ao término do mestrado, a evolução das crianças será avaliada por meio da Lista de Avaliação de Tratamentos do Autismo (Atec), uma das ferramentas mais utilizadas em pesquisas que envolvem o autismo. A ferramenta engloba aspectos que os pais preenchem ao iniciar cada sessão de terapia e no término da última. Isso permitirá que a pesquisadora estabeleça uma comparação entre os resultados e atribua uma pontuação, que será um indicativo da eficácia da terapia. Entretanto, algumas melhorias significativas já foram observadas.
“Há uma melhoria na comunicação dessas crianças que, geralmente, enfrentam dificuldades para interagir. Percebemos que, nesse grupo de seis crianças, conseguimos interagir com todos, embora haja momentos em que alguns estão mais isolados. Então, há uma maior interação social e uma comunicação mais eficaz entre eles, com a equipe e até com a família. A melhora não é evidente apenas aqui, mas também em casa e no cotidiano. Isso contribui significativamente para a qualidade de vida dessas crianças”, afirmou a enfermeira.
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