
Os altos índices de mortalidade materna e infantil de indígenas na região do Médio Solimões e Afluentes, no Amazonas, têm levado a Universidade Federal do Amazonas (UFAM) a capacitar profissionais que atendem mães indígenas. Na semana passada, 30 profissionais foram capacitados no município de Tefé, localizado a 523 quilômetros de Manaus. A meta é fazer com que as equipes usem a plataforma de telemonitoramento de gestantes de alto risco.
“A gente vem perdendo mulheres. Perdendo por uma coisa muito simples, que é a questão do pré-natal, uma questão da prevenção”, relata a indígena tikuna Ercília Vieira, que coordena o Distrito Sanitário de Saúde Indígena (DSEI) da região, composto por 14 municípios do Oeste do Amazonas.
A morte materna é o óbito de uma mulher durante ou até 42 dias após o término da gestação. Na grande maioria dos casos, a morte é evitável com um simples acompanhamento da gestante.
Comunidades distantes
As profissionais aprendem a usar a plataforma que reúne informações sobre o pré-natal e conecta as equipes de enfermagem aos médicos que residem nas cidades. Com a capacitação, enfermeiros e técnicos de enfermagem do DSEI passam a inserir, no meio digital, os dados das pacientes que se enquadram no perfil de gravidez de alto risco.
“Tecnologias digitais de informação e comunicação integram o eixo principal do projeto. Numa região como a Amazônia, uma extensão territorial imensa e com barreiras de acesso geográfico quase intransponíveis, esse é o melhor caminho para se chegar até essas comunidades mais distantes”, destaca Pedro Elias, que coordenou a capacitação realizada pelo Hospital Universitário Getúlio Vargas (HUGV).
O enfermeiro João Paulo Barreto salienta que muitas vezes a equipe de enfermagem tem que fazer atendimentos sem auxílio de médicos, se deparando com gestantes de alto risco. Ele atua em um posto de saúde que fica distante sete horas de viagem do município mais próximo e atende cerca de 1,4 mil indígenas.
Para Barreto, o projeto é fundamental porque permite o acesso aos médicos. “Com esse programa, a gente pode ter um feedback com um especialista para saber como lidar com essas pacientes”, acentua.
O enfermeiro acrescenta que a dificuldade é acessar a internet, que é limitada a poucas horas no período noturno na escola da região. “Os professores fornecem a senha do wi-fi, mas nós só temos o período da noite para ter um contato com o mundo fora da aldeia”, finaliza João Paulo.
Da Agência Brasil, *Com informações da Empresa Brasileira de Serviços Hospitalares (Ebserh).
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